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Dom, 26 de Setembro de 2010 03:18

Daniela Duarte discute a "Reflexibilidade Cinematográfica" no GT Imagem e Imaginário

Por Ingrid Braquehais

No 1º dia (23) de reunião Grupo de Trabalho (GT) Imagem e Imaginário, a professora Daniela Duarte Guimarães, Doutora em Sociologia pela USP, apresentou o trabalho "Em busca do "conceito reflexibilidade" cinematográfica", através da análise de três materiais audiovisuais: um filme publicário de uma campanha da Dove, "Tempo e Guerra" (1963), de Jean-Luc Godard e "Um Homem com uma câmera" (1929), de Dziga Vertov. O GT pretende debater sobre estudos relacionados à imagem fotográfica, ao cinema, ao vídeo, à televisão e à imagem publicitária e sobre as imagens híbridas dos imaginários contemporâneos e seus desdobramentos na cultura, na sociedade e na mídia. Após a reunião, Daniela concedeu uma entrevista ao SCCC.

 

SCCC: Qual é o objetivo central do seu trabalho e o que você pretende provar com ele?

Daniela: Bom, o trabalho se propõe a tratar de uma questão conceitual que é o próprio conceito de reflexibilidade no cinema. Então, a ideia é pensar a partir de como ele vem sendo tratado hoje e ir buscando as referências de construção desse conceito. Então, porque que eu me interessei por esse tema? O conceito de reflexibilidade surge muito associado à uma questão política, de como uma imagem pode, de alguma forma, provocar pensamento, provocar reflexão. E alguns procedimentos formais são utilizados pra isso. E o que que acontece na contemporaneidade? Esses recursos formais, eles foram amplamentes apropriados por um discurso mais comercial do que reflexivo, num sentido de pensamento. Então a questão é, esse recurso formal ele continua dando conta de uma reflexibilidade? Como é isso de você pegar um recurso que está associado a um conceito e de repente você descontextualiza. Então é um pouco esse movimento. A gente pode dizer, então se, ah, se é a mesma forma é a mesma coisa? Bom, e eu acho claramente que não! (risos). Então a partir disso que eu me propus a pensar, a buscar como esse conceito foi construído até chegar em como ele vem sendo utilizado por alguns autores hojes. A partir do que eu recupero primeiro um pouco dessa discussão sobre como essa imagen estava nos anos 60, 70 na base dessa discussão.

SCCC: Qual o objeto de estudo da sua pesquisa?

Daniela: O objeto do estudo é o próprio conceito. Os filmes são imagens que nos ajudam a pensar esse conceito. Então eu trabalhei com três filmes, um filme publicitário, que é uma campanha da Dove, o outro é o "Tempo de Guerra", do Gordard e o outro é "Um Homem com uma Câmera", do Vertov. Então eu fui fazendo esse movimento reverso, e voltando lá pra esse momento, de certa forma inaugural, que ele não aparecia como conceito, não estava dado como conceito, mas que ali nas discussões das vanguardas era algo que estava permeando, embora não nomeado, o conceito só é nomeado lá para os anos 70.

SCCC: Quais seriam esses recursos formais utilizados nos filmes que comprovam a sua tese?


Daniela:
São os recursos anti-ilusionistas, de um modo geral. Como por exemplo, no Tempo de Guerra, tem uma cena que o soldado tá numa sala de cinema e no filme tá passando uma moça tomando banho, então ele quer se relacionar com a imagem, ele pega na imagem a ponto de rasgar a tela. Então, isso de uma certa maneira ele está nos perguntando o que é a imagem, a materialidade da imagem, a forma como a gente se relaciona com ela. Não é a mulher, é uma imagem, então porque a gente tem esse tipo de relação, a questão de se deixar se seduzir por uma imagem. Então são recursos que são utilizados que nos provocam ou podem provocar reflexão sobre a própria imagem.

No Homem com uma Câmera, a própria ideia daquele olho, ela vai bastante trabalhar com isso. Noje é muito comum né, porque aquele olho ele trabalha com a ideia do que de um olho, de que, o que ele difere do olho humano. Então, as diferenças de ritmo, as diferenças de enquadramento, um olho não enquadra, você pode ter foco de atenção, mas isso é outra coisa. Eu não consigo te ver em close, a não ser com a ajuda de uma câmera. A questão da velocidade, que pode ser acelerada ou pode ser desacelerada. Então ele vai trabalhar muito com esses recursos que são próprios da câmera mas trabalha muito também com a questão da montagem. Então a cena do Homem com a câmera que eu trouxe também trabalha com a questão da sensualidade, mas de outra forma, que não é nem a do Dove nem a do godah, que é a moça acordando, então tem um plano-detalhe dela calçando a meia, abotoando o sutiã, então é uma imagem que desperta uma sensualidade, mas em seguida, essa mesma imagem está permeada por outras imagens de despertar. Tem também o operário despertando, tem também o morador de rua despertando, sabe. E aí depois que  desperta todo mundo vai se lavar, a cidade e a calçada vai ser varrida, do mesmo jeito que a mulher vai lavar seu rosto. Então isso passa a fazer parte um contexto que tira desse lugar da perdição e passa a ser um lugar da vida. A gente acorda, se veste, toma banho, é a vida cotidiana, e essa também é uma forma de romper com as leituras das imagens.

Perfil

Daniela Duarte Guimarães é formada em Comunicação Social pela UFC, Doutora em Sociologia pela USP e Professora da UFC do curso de Cinema e Audiovisual.