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Ter, 05 de Outubro de 2010 10:01

Guilhermo Orozco fala sobre os novos paradigmas da comunicação e da educação em conferência de encerramento

Por Gabriela Alencar e Aline Moura

Um novo tipo de educação, na qual o conhecimento pode ser construído por todos. Foi o que defendeu Guilhermo Orozco, doutor em Educação pela Universidade de Harvard e professor da Universidade de Guadalajara – México na conferência “A Condição Comunicacional Contemporânea” que encerrou as atividades do I Seminário Nacional de Comunicação, Cultura e Cidadania. Confira, aqui, entrevista completa concedida à equipe de cobertura do seminário.

SCCC: Como as novas tecnologias de comunicação podem se inserir nas escolas? Como podem estar presentes modificando a ideia tradicional que temos de educação?

Orozco: É uma pergunta para qual não há uma resposta única. Eu creio que a escola deveria prestar mais atenção na maneira autodidata com que os jovens se relacionam com todas as tecnologias fora da escola. Deveriam estar observando como os jovens o fazem e dessa maneira tratar de reproduzir a pedagogia com a qual eles estão aprendendo, porque a maneira como a escola age agora não é a maneira adequada, é uma maneira muito restrita, muito formal de introduzir de maneira instrumental e mecânica as novas tecnologias. É necessário entender o sentido do instrumental, a escola tem que aprender da rua para poder intervir na cultura da rua.

SCCC: O senhor acredita no papel educativo dos meios de comunicação?

Orozco: Sim. Eu creio que qualquer meio educa, mesmo que não tenha o objetivo de educar. Não é necessário que haja um conteúdo intencionalmente pensado para educar. Qualquer conteúdo educa, mesmo que não tenha esse objetivo. Qualquer programa de televisão, qualquer filme pode ensinar algo, o problema é que nem todos os conteúdos têm qualidade e devem ser aprendidos. Então, temos que discriminar e aí é que deve intervir a educação formal e a escola, tratando de orientar a todos sobre o que é importante aprender.

SCCC: O senhor acredita que está longe o momento, na América Latina, em que todos poderão produzir conhecimento de uma maneira crítica?

Orozco: Eu creio que está menos longe do que antes, quando a interatividade ainda não era possível. Antes, era mais difícil poder pensar que todos teriam acesso à informação e ao conhecimento. Agora, com toda a tecnologia de que dispomos, é mais fácil porque é mais provável que num futuro próximo possamos ter acesso total. Atualmente o celular segue a televisão no acesso. A televisão está em praticamente 98% dos lares da America Latina e cerca de 85% das pessoas têm telefone celular, mas as outras tecnologias (internet, videogames, por exemplo), ainda não estão em todos os lares.

SCCC: É possível, na web, fiscalizar a produção do conhecimento. Como se daria esse controle?

Orozco: Há maneiras de se controlar o conhecimento perverso. Em cada país, por exemplo, há ministérios de comunicação, de cultura ou ministérios de governo. Há polícia cibernética. Há equipes que fiscalizam para que não haja pornografia de menores de idade, que não haja corrupção. Há instâncias legais de cada Estado, cada nação para intervir, mas apenas em situações extremas. No cotidiano, a produção de conhecimento na web escapa de qualquer vigilância.

SCCC: O senhor falou, em sua apresentação, sobre um novo paradigma da comunicação que estaríamos vivendo, o paradigma da produção do conhecimento. A sociedade está preparada para o paradigma da produção do conhecimento?

Orozco: Não, definitivamente não, por isso minha preocupação. Temos as possibilidades técnicas, mas, não temos ainda a capacidade, a disposição, a formação para assumir plenamente a possibilidade técnica. É preciso primeiro educar as pessoas e as escolas sobre as novas maneiras de educação para que todos possam produzir o conhecimento.

SCCC: Com relação à globalização, o senhor acredita ser positivo ou negativo para os pequenos grupos o fenômeno da globalização? Ele descaracteriza-os ou é algo bom porque expande essas culturas para o mundo todo?

Orozco: Eu creio que pode ser bem positivo. O que é negativo é a intervenção do mercado. O mercado é que intervém no que se globaliza ou no que se localiza com objetivos de venda, de extrair capital dos objetos e sujeitos que estão atuando. O problema da globalização é a intervenção do mercado. A globalização em si pode ser muito positiva, porque permite que se esteja em sintonia com uma cultura global, na medida em que isso não venha a matar a cultura local nem excluí-la ou discriminá-la. O mercado, os critérios mercantis é que são terríveis, não a globalização.